sábado, 31 de dezembro de 2011

Hobbies e a dedicação ao estudo da Natureza

por Alberto Ronconi


Algumas pessoas de repente descobrem o hobby com que se identificam. Muitas vezes demora, mas quando elas descobrem, dizem que "se encontraram", passam o dia pensando naquilo, falam dele com entusiasmo para os outros, e não raro ficam mais animadas e bem dispostas em todas as atividades diárias.

Mas esses passatempos, em que a dedicação não é remunerada (e inclusive podem custar caro), vão tomando um tempo crescente da pessoa. Pode ser tocar um instrumento, praticar um esporte como o triatlon, construir aeromodelos, cultivar bonsais - para adquirir níveis crescentes de maestria é necessário uma aplicação cada vez maior de energia e tempo, ainda mais quando se começa a participar de competições entre amadores.

Somado à atividade profissional, o hobby acaba por consumir toda a disposição da pessoa, de forma que não sobra espaço para um estudo aprofundado da Natureza, aqui entendida como o si mesmo mais o mundo como um todo.

Será que pelo fato da pessoa sentir-se realizada esse estudo pode ser ignorado, e deixado para aqueles que o tenham como hobby? Ou será que com essa sensação de plenitude, vontade de superar limites, e felicidade ao atingir seus objetivos, os hobbistas apenas desviam sua atenção de um assunto que deveria ser o foco de todos?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

E se tudo for apenas seguir as etapas?

por Alberto Ronconi


Pode ser que o sentido da vida seja simplesmente seguir a receita de bolo vigente na cultura de cada um.

Por exemplo: brincar na infância, depois estudar, se dedicar aos amigos e grupos na adolescência, estudar mais, casar, trabalhar, ter filhos, fazer um esforço financeiro, melhorar na carreira, se aposentar, encontrar um passatempo, ter problemas de saúde e morrer.

Quem percorre uma sequência de experiências, como por exemplo a acima exemplificada, certamente lida com os próprios medos e limitações, tem as mais diversas experiências, passa a conhecer mais o mecanismo da vida, cria habilidades e competências. Conscientemente ou não, o ser muda muito do começo ao fim, moldando suas atitudes e pensamentos à realidade do mundo. Entra na vida cru e sai calejado pelo mundo real.

E se o nosso objetivo na vida for exatamente esse, e os que se dedicarem a questões filosóficas apenas desperdiçarem o tempo em que poderiam estar vivendo de verdade, tendo experiências comuns?


Atualização (24/05/2012): encontramos pensamento semelhante em coluna da Folha de São Paulo, por Contardo Calligaris: O Sentido Faz Falta?

O sentido de se preocupar com o sentido da vida

por Alberto Ronconi


Faz sentido alguém se preocupar com a razão da própria existência? É um assunto que consome muitíssimo tempo para ser estudado e analisado, com o agravante de provavelmente não se chegar a uma conclusão definitiva. Será que procurar o sentido da vida não é uma perda de tempo que impede de viver realmente?

É digno de nota que nos interessamos mais pelo assunto nos momentos difíceis. Se estamos felizes e ativos e tudo vai bem, parece que não há essa disposição natural em pensar no porquê das coisas. Mas quando algo nos angustia, quando nos deparamos com o sofrimento, naturalmente vêm à tona indagações a respeito da nossa existência. A melancolia é um ímã que atrai a busca pelo sentido da vida. Resta saber se isso é bom ou ruim, real ou um engodo.

Os momentos de euforia atuam como psicotrópicos que nublam nossa visão para o que realmente importa? Ou a tristeza tem como efeito colateral crises existenciais que, tal como uma indisposição, passam naturalmente conforme voltamos ao normal?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O trabalho e o que realmente importa

por Alberto Ronconi


Qual a função do trabalho profissional? Apenas fornecer conforto para que possamos nos dedicar à vida no tempo que sobra? Ou ele tem uma função intrínseca, como se parte do sentido da vida fosse trabalhar?

Alguém com situação econômica folgada deveria trabalhar, ou estaria apenas desperdiçando seu tempo? Postergar a aposentadoria além do tempo necessário pode ser bom ou necessariamente quem faz isso está se privando da verdadeira vida?

Sem dúvida é possível evoluir muito ao trabalhar, para os que estiverem dispostos a isso. Organização, paciência, como lidar com a inveja, como trabalhar em equipe, como agir sob pressão, como aproveitar o tempo, como transformar uma ideia em realização. E pratica-se tudo isso recebendo um pagamento!

E quanto mais interessante for a função, mais conhecimentos e experiências para a vida podem ser adquiridos. Será que a sensação de criar algo grandioso, juntando pequenos pedacinhos e envolvendo várias pessoas para ver uma nova solução se formando passo a passo, não é semelhante à do artista quando finaliza uma obra?

O aprendizado para a vida não precisa necessariamente ser construído fora do trabalho. Com isso, não se pode dizer que a vida de quem se dedica inteiramente à profissão careça de sentido. Mas o foco precisa ser nas virtudes, e não no trabalho em si nos seus aspectos técnicos.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Escolas do pensamento filosófico recentes

Nos últimos dois séculos surgiram algumas doutrinas filosóficas voltadas para o sentido da vida do homem num universo em que Deus ou não tenha tal preocupação ou sequer exista.

As três filosofias a seguir listadas se apresentam como distintas entre si. Mais de um filósofo trabalhou em cada uma delas, cada um com seus próprios conceitos e ideias, de modo que não existe uma única definição precisa das doutrinas. Aqui se mostram os pontos de vista relacionados a um pensador em particular.

existencialismo ateu: sua proposição central é que "a existência precede a essência". Isso significa que primeiro o homem existe e toma consciência disso, e depois deve criar um sentido para a sua vida. Ou seja, o sentido para a vida existe, mas precisa ser criado pelo próprio homem. É como se os homens assumissem o papel de deuses, dando o rumo para si e para a humanidade. Nome proeminente: Sartre.

absurdismo: um sentido universal para a vida pode existir ou não, mas o homem não pode conhecê-lo, embora tenha a tendência a procurá-lo. O absurdo é causado pela existência simultânea do Universo e da mente humana. Não se aplicam regras éticas, pois elas são baseadas em justificações; o "tudo é permitido" não é um alívio, mas o amargo reconhecimento de um fato. O que cabe ao homem é aceitar o absurdo como inevitável para ser livre, e levar uma vida de revolta contra ele. Qualquer sentido particular que o homem queira dar para sua própria vida tem que levar em conta o absurdo. Nome proeminente: Camus.

niilismo: não existe o sentido da vida. O Universo e a existência humana não têm significado, propósito ou valor intrínseco. Nome proeminente: Nietzsche.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Altruísmo, missão ou glória

por Alberto Ronconi


Quando temos um entendimento bombástico sobre o mundo, que nos faz sentirmos mais evoluídos que antes, surge a necessidade de compartilhá-lo com o resto da humanidade, para que os demais desfrutem de nossa compreensão mais aguçada.

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A certeza que vamos deixar de existir no mundo, ao menos fisicamente, aumenta com o passar dos anos. Paulatinamente vamos nos preocupando com um legado, algo de inovador e positivo a deixar na Terra para que nossa existência nela não seja em vão. Qualquer coisa que facilite, alegre ou adicione novas perspectivas às vidas das pessoas, mas que sejamos lembrados pelos que nos sucederem.

*

Parte importante da satisfação do ser humano médio é ser reconhecido. Exalarmos sucesso, glória, importância, ou ao menos os demais pensarem que somos superiores e especiais em algo. Infeliz daquele que está na escala mais baixa, que admira ou inveja os outros nos mais diversos aspectos e não é admirado ou invejado em nenhum sequer - é como se sua existência ou não fosse completamente insignificante. Quantos momentos difíceis da vida são suportados ao pensarmos que sempre há alguém em situação pior que a nossa.




O instinto quer exibir a glória como um troféu. A mente, quando se percebe efêmera, quer se eternizar, cumprindo uma missão. E uma parte nobre do ser humano quer apenas ajudar, ainda que anonimamente, e sente o maior prazer nesse altruísmo.

Como se confundem esses três comportamentos! Muitas vezes estamos em um deles e de repente resvalamos imperceptivelmente para outro, numa sequência cíclica que varia conforme nosso estado psicológico! Aí surge a dúvida: será que estamos buscando a razão de nossa vida, ou apenas a fama? Será que estamos melhorando o mundo, ou apenas causando poluição com nossas ideias rasas?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como deixar um legado?

por Alberto Ronconi


Dentre as pessoas que têm um grande objetivo, este é um dos principais. Afinal nossa passagem pelo mundo é efêmera, um piscar de olhos no tempo cósmico. Se não deixarmos um legado, tudo o que fomos na vida terrestre morrerá conosco. E se conseguirmos, de certa forma nos tornaremos imortais, pois uma parte de nós continuará presente indefinidamente.

Mas surge a primeira questão: todos deveriam deixar um legado? Isso é logicamente improvável, pois pouquíssimos são os que se destacam no mundo. Por mais que todo mundo tente, talvez um em um milhão consiga ter suas ideias conhecidas e constantemente recordadas um século depois de sua morte. (Seguindo esta  hipótese, daqui 100 anos continuarão importantes ou influentes apenas 7 mil das pessoas que estão vivas hoje.)

Ser recordado durante 100 anos e depois esquecido também não parece algo muito diferente de ser recordado apenas durante a vida. O impacto causado no mundo teria que ser forte o bastante para durar milhares de anos.

Mas atualmente produzem-se milhares de filmes, músicas, pinturas, livros, filosofias todos os anos. A quantidade de informação criada por uma geração vem crescendo exponencialmente, e logo será impossível que se conheça tudo o que de importante foi criado desde o surgimento do homo sapiens. Os pioneiros, como Platão, Newton, Shakespeare, da Vinci, Beethoven, jamais serão esquecidos. Mas os que apenas deram sequência a essas ideias inovadoras tenderão gradualmente a se fundir em uma grande multidão. E não há como todo mundo supor que produzirá impacto igual ao dos grandes nomes.

Um bom ator de teatro é esquecido muito rapidamente, já que não deixa registros físicos. Mas um de cinema também não será conhecido quando existir uma coleção de um milhão de filmes na humanidade.

Se uma pessoa faz um bem a outra, pode causar grande impacto a curto prazo. Mas com o passar dos anos isso vai se atenuando, à medida que surgem novas necessidades. Até salvar uma vida pode ser algo com pouco impacto no longo prazo, se a pessoa salva não produzir nada que mude o mundo.

Educar bem os filhos apenas passa a responsabilidade de deixar um legado para as futuras gerações.

A conclusão é que alguma filosofia precisa consolar os bilhões que serão irremediavelmente apagados da história dentro de mil anos, um tempo tão curto que representa menos de um décimo de milionésimo da história do Universo.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Filosofia do século XXI e além

por Alberto Ronconi


O homem da idade da pedra provavelmente só se preocupava com alimentos e abrigo. Certamente devia ser muito excitante e recompensador quando obtinha sucesso absoluto, mas não havia muito tempo para divagar; logo era necessário recomeçar a jornada. Isso devia manter sua mente ocupada, de maneira a não sobrar espaço para preocupações existenciais.

Hoje já começamos tendo de graça tudo o que os antigos trabalhavam a vida toda para conseguir. A rede de proteção do estado e os baixos preços da produção em massa nos fornecem comida em abundânica, alguma assistência à saúde na forma de vacinas e remédios simples, e ao menos um lugar para dormir. Homens do serviço público fazem nossa segurança, e sempre é possível encontrar educação gratuita em algum nível. Mais que isso: a Wikipedia, livremente acessível em todos os lugares e idiomas, disponibiliza mais informação que uma livraria inteira.

Ou seja, qualquer pessoa pode abdicar completamente do trabalho remunerado e mesmo assim viverá com relativo conforto, e terá um acesso infinitamente maior ao conhecimento se comparada ao homem das cavernas.

Mas o que vemos são muitos trabalhando incansavelmente para aumentar seu poder de consumo. Torna-se inclusive cada vez mais difícil trabalhar o suficiente para acompanhar um padrão médio de consumo que só cresce.

A filosofia do século 21 é:
  • consuma tudo aquilo que tiver um bom custo benefício para lhe dar prazer
  • se realize encontrando um trabalho desafiante e motivador
  • consuma viagens a lugares distantes para ampliar seus horizontes
  • no pouco tempo que sobrar, relaxe e fale bobagens com as pessoas que você gosta
  • absorva ao máximo as informações aleatórias que cruzarem seu caminho, para não se alienar
  • troque dinheiro por conforto, ainda que para conseguir este dinheiro seja necessário abrir mão do mesmo conforto
  • para não ficar triste na velhice, continue trabalhando ou desenvolva um hobby para passar o tempo

Em algumas décadas isso tudo perderá o sentido. Quando a maioria da sociedade cansar dessa vida - e essa mudança de fase acontece desde sempre - novas questões ocuparão o centro da atenção humana.

A filosofia do futuro poderá ser:
  • trabalhe o mínimo possível, somente para ter o necessário para a subsistência
  • não perca muito tempo com hobbies inúteis
  • divirta-se produtivamente com as pessoas que você gosta
  • dedique a maior parte do tempo para, com tranquilidade e motivação, pensar, ampliar sua visão sobre si mesmo e o mundo, e descobrir o sentido da vida

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O prazer e o vício

por Alberto Ronconi


Quando uma coisa é boa, queremos fazer sempre.

Se descobrimos que é um grande prazer comer bem, comer o de sempre fica sem graça.

Logo começamos a comer bem todos os dias, se possível mais de uma vez.

Mas o problema é que isso deixará de ser um prazer, e vai se tornar quase uma obrigação.

Não sentiremos mais a felicidade que é um sabor delicadamente inesperado bem na hora da fome.

E voltar a comer no padrão de antes soará insuportável.

Portanto, uma questão crucial para a manutenção dos pequenos bons momentos, que são os tijolos da felicidade:

Como se entregar apenas temporariamente a um prazer, na certeza de que é sua inconstância que o torna tão bom?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Outro conceito de super-homem

por Alberto Ronconi


O livro "O Senhor de Sándara" (pág. 221), de González Pecotche, apresenta um método peculiar de modelar o super-homem - conceito popularizado por Nietzsche, mas abordado por vários outros autores, como Dostoiévski. Recomenda o livro que criemos um personagem arquetípico (que poderia ser nós mesmos), para então o induzirmos a realizar gestos virtuosos e sair-se bem das situações em que se coloque. Depois o comparamos conosco mesmo e decidimos se devemos imitá-lo. Fazendo eu esse exercício, o super-homem:

Possui um objetivo geral na vida (como trabalhar pelo crescimento, tanto próprio quanto alheio). Tem também sub-objetivos, um para cada área da vida. Sabe em linhas gerais o que pretende da vida profissional, da cultural, da de relação com os amigos, da familiar.

Ė dotado de uma porção de autoconfiança a priori, ou seja, não sofre do medo do ridículo em relação àquilo que manifesta ou apresenta. Sabe que, se o que fez der errado, não havia mesmo outra maneira, pois aquela era a melhor maneira que podia agir.

Não sofre por antecipação, pois controlado pela sua imaginação viveria sempre as piores situações. Não fica ansioso por rastrear como vai a vida dos outros, temendo encontrar a felicidade e o sucesso que não vê na sua. Pois sabe que uma experiência tem significado diferente para cada um, e preocupa-se em recolher e aprimorar aqueles consonantes consigo próprio.

Consegue perceber o mundo à sua volta de maneira integrada, relacionando situações distantes mas semelhantes, e constantemente usa o que observa do mundo, dos indivíduos e da sociedade como gatilho para ideias criativas e produtivas. A cada fato que vive, relaciona automaticamente com o que já viveu, com o que pensa e com o que pode ser pensado.

Consegue agir prontamente, tempestivamente. Não sofre da paralisia inicial, que muitas vezes torna a ação desnecessariamente tardia e ineficiente.

Está bem consigo mesmo, satisfeito com a intensidade e veracidade de suas atitudes. Percebe que em essência ė a mesma pessoa diante dos diferentes grupos com os quais convive.

Teoria do gás

por Alberto Ronconi


Quando se injeta gás num recipiente, ele se expande até ocupar todo o espaço disponível. Se o recipiente aumentar de tamanho, o gás prontamente preenche o volume adicional.

Pode-se estender essa teoria para nosso comportamento do dia-a-dia. Cada um pode ter uma tendência maior para um caso específico dela, mas em todos se encaixa o rótulo de bitolado. Com isso temos a teoria do gás aplicada a:

  • finanças: encontramos utilidade para aplicar todos os recursos que temos. Se nossa vida já é como sonhamos um dia e ganhamos um aumento de salário, logo adquirimos necessidades de outro patamar de padrão de vida, como uma residência mais luxuosa ou uma casa na praia.
  • trabalho: suponha uma dona de casa perfeccionista que às 14 horas já terminou todas as tarefas previstas e a próxima atividade será só às 18 horas. Se ela não tiver outros afazeres pessoais, acabará procurando mais coisas para limpar, vai criar novas maneiras de organizar as co isas, etc., de forma que só se sinta bem se trabalhar ininterruptamente para evitar o ócio.
  • tempo: se de repente nos sobra um tempo livre porque deixamos de ter uma ativiade fixa, logo surge um incômodo, e a necessidade impulsiva de preencher esse tempo. "Acho que vou aprender italiano", ou "vou aproveitar esse horário para fazer uma nova faculdade" podem ser frases comuns. Assim não nos sentirmos mal por estarmos parados, mas também não nos damos a oportunidade de ter tempo livre para criar, pensar.

Nos sentimos mal quando já cumprimos nossa meta e ainda restam recursos disponíveis. Parece que não fizemos as coisas da melhor maneira possível. Corre esse risco quem trata as tarefas acessórias como fim, e não como meio.

Não sabem o que querem

por Alberto Ronconi


Se perguntadas, muitas pessoas dirão: "quero me formar em tal especialidade", ou "meu objetivo é passar num concurso público".

Entretanto, é no tempo livre que se observa a ordem mental de cada um.

Quando, no meio do dia, surge um buraco de duas horas para fazer o que quiser, é comum que um indivíduo se sinta perdido e acabe não realizando nada de útil, só para lamentar logo depois.

Como implementar os planos grandiosos que se tem para algum momento no futuro, como fazer uma viagem, assistir a todos os capítulos atrasados do seriado preferido, uma grande arrumação na casa, escrever um livro, nesse mísero tempo?

O curioso é que, se as repentinas duas horas livres se repetissem em um sem número de ocasiões, ainda assim as grandes obras não seriam sequer iniciadas, mesmo que a soma de todo o tempo livre fosse mais que suficiente para tal.

Quando não planejamos o que fazer nos momentos vagos, as primeiras coisas que vêm à mente são nossos pequenos vícios, como para alguns navegar aleatoriamente ma internet. Ou uma ideia rebelde de não fazer nada sob o falso pretexto de relaxar - mas não fazer nada desorganizadamente é cansativo e o tempo demora a passar.

A liberdade não existe

por Alberto Ronconi


Na Revolução Industrial os operários não eram livres. Trabalhavam não raro 16 horas por dia, desde a infância. Não tinham tempo para o lazer, para estudar ou para quaisquer atividades que tivessem vontade. Por isso pode-se dizer que não tinham liberdade.

Hoje a maioria das pessoas trabalha em torno de 8 horas por dia, dispondo assim de bem mais tempo que os trabalhadores de dois séculos atrás para fazer o que bem entenderem. Mas muitos preferem usar as horas livres investindo em aprendizado que os ajudará em suas carreiras. Outros optam por lazer (geralmente passivo), alegando que só assim descansam para o próximo dia de trabalho. Dependendo do ponto de vista, embora agora se tenha muito mais conforto e um padrão de vida absolutamente superior, não se pode dizer que se goza de liberdade.

Mas o que é ser livre? O que uma pessoa deveria fazer em seu tempo ocioso? O que bem entender, dirão alguns. Se um indivíduo fica 4 horas a fio assistindo letargicamente a programa atrás de programa, é isso o que está com vontade de fazer, logo está exercendo sua liberdade.

Entretanto, pode-se argumentar que ele não é livre, apenas refém da preguiça e da apatia. A liberdade requer libertação das amarras mentais, pensamentos depressivos, déficit de atenção, transfornos, fobias, estafa.

Supondo agora que alguém tenha conseguido controlar essas limitações, será livre para fazer o que quiser?

Depende. Se forem levadas em conta a lógica e a ética, a liberdade de um não pode limitar o direito do outro, caso contrário seria impossível a vida em sociedade. Só isso já imepede que liberdade signifique "fazer o que quiser quando quiser" - moral de Os Irmãos Karamazov.

Continuando, a mesma lógica nos priva de fazermos mal gratuito a nós mesmos. Seria uma liberdade contrária ao bom senso. Claro que alguém pode ter atitudes absurdas apenas para sentir-se livre em maior grau, mas fazendo algo que não traz benefício para ninguém. Logo, como liberdade prática isso não faz sentido.

Mas é possível analisar o fazer mal a si mesmo em um sentido mais amplo. Por que alguém ficaria se martirizando na cama depois do despertador tocar? Por que alguém comeria mais do que deve apenas para o sentimento de culpa eclipsar o prazer? Por que gastar as melhores horas da vida assistindo passivamente às mais diversas atrações criadas para entretenimento? Embora haja a liberdade teórica de se fazer isso, na prática também não vale a pena.

Já conseguimos limitar sobremaneira o conceito da liberdade: só é interessante fazer algo positivo para si mesmo ou para a humanidade.

Quanto mais se pensa, mais se percebe que várias atividades não fazem o menor sentido, e poucas são importantes (na verdade mandatórias) de fazer quando se usa o bom senso. O conhecimento restringe as possibilidades de atuação, enquanto a ignorância multiplica para mil coisas inúteis.

Você poderá argumentar: sou livre para escolher entre beber cerveja ou vinho, trabalhar com direito ou engenharia, ter filhos ou não, ser consumista ou minimalista.

É claro, mas muitas dessas escolhas são unicamente função de nossas características inatas, como habilidades, compatibilidade genética, ou nosso perfil psicológico. Decidir tomar água não é uma demonstração de liberdade, e sim uma prova de como somos indissoluvelmente ligados a necessidades físicas e preferências genéticas que não escolhemos.

E no fim das contas não faz diferença se bebemos café ou chá, e sim a vida como um todo que construímos para nós, acima da escolha da profissão ou do modelo do carro. Existem vários caminhos para se chegar a um lugar, mas certamente alguns são melhores que outros, e qualquer um consciente disso escolheria pegar o mais proveitoso.

Em última instância todos querem ser ricos (não simplesmente de dinheiro, mas de conhecimentos, habilidades, felicidade). Que liberdade é essa, que leva todo mundo a buscar os mesmos objetivos?


Atualização (8 de junho de 2012): aqui de certa forma foram trazidas ideias sobre o livre arbítrio, com inclinação ao determinismo. Outro texto interessante aqui: parte 1 e parte 3

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Manifesto

por Alberto Ronconi


A ideia do nosso blog não é propor uma nova filosofia de vida, até porque isso não seria um grande feito, já que existem milhares delas e não é difícil nos perdermos em suas definições.

Tentamos resumir a essência de alguns posts em tópicos.

  • não faz sentido o patriotismo - todos os cidadãos do mundo devem buscar o mesmo bem comum
  • o conhecimento é mais valioso que o conforto material ou a diversão
  • o trabalho (eficiente e eficaz) para o bem de si mesmo e da humanidade é o melhor uso possível que o homem pode dar ao seu tempo
  • julgar gratuitamente os outros é uma atitude superficial daquele que não conhece a si mesmo
  • entidades divinas não parecem interferir em nosso mundo, que é lógico e governado por leis de abrangência universal. No microcosmo individual, essas leis podem ter a aparência de acaso
  • se tudo acaba com a morte, não importa o que fazemos. Se não acaba, nossos atos podem ser úteis para além da vida. Como não sabemos o que acontece, o melhor é agir de acordo com a segunda opção
  • não existe o self made man, todos devemos alguma gratidão a tudo que contribuiu para formar nossa sabedoria 
  • a liberdade (em alguma acepção do termo) não existe. Temos que fazer o que é melhor para nós, nem mais, nem menos. Só nos achamos livres porque não sabemos o melhor caminho a seguir

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Alma gêmea

por Alberto Ronconi


Dizem que a alma gêmea de uma pessoa está entre os 3 bilhões de pessoas do sexo oposto que vivem no planeta. Mas essa informação é absolutamente equivocada.

Este artigo só contempla as pessoas que fazem parte da massa, não pessoas bizarras, estilosas, à la Rogério Skylab. Afinal mais de 90% das pessoas alegaria razões de foro íntimo, ou soberania individual, para não se envolver com gente de diferentes estaturas, peso, raça, etc.

Das 3 bilhões de pessoas do sexo oposto, quantas uma mulher alta e bonita tem à sua disposição para encontrar sua alma gêmea? Pouquíssimas... Se seu companheiro ideal for baixinho, ou gordo, ou feio, ela nunca o conhecerá. Logo de cara restringirá seus potenciais pares para menos de 1% da população.

Da mesma forma um homem rico e minimamente bem apresentável. Ou vai procurar uma mulher bonita, ou uma rica, ou uma que junte as duas condições. Jamais daria chance para alguém pobre de beleza mediana. Também só terá 1% da população feminina mundial como possíveis affairs.

Ou seja, ou nossa alma gêmea se encaixa nas características físicas, sociais e geográficas de nosso interesse, ou provavelmente não a encontraremos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fábula - Perfis

por Alberto Ronconi


A B e C são funcionários públicos que não se conhecem, mas levam vidas similares. Durante a faculdade, se preocupavam mais em tirar boas notas, e fazer bem tudo o que lhes era pedido, do que com a ambição que alguns colegas tinham em relação ao mundo dos estágios. Quando se formaram perceberam que seu currículo não era o ideal para as empresas, e recebendo salários insatisfatórios dedicaram-se a concursos públicos. A tornou-se servidor federal, B foi para uma empresa pública e C para uma sociedade de economia mista. Todos motivaram-se muito nas palestras de apresentação de seus empregos, mas depois de algum tempo perceberam que não teriam uma carreira ultracompetitiva, intensa. Como não trocariam sua tranquilidade pela selva das empresas privadas, cada um decidiu dedicar-se com afinco a seus hobbies. A gostava de cinema. Entrou de cabeça nessa atividade, assistindo a pelo menos um filme por dia, e estava sempre alerta lendo as críticas profissionais e escrevendo comentários em fóruns especializados. No início encontrou muita novidade, e aquilo era o paraíso. Mas com o tempo as coisas foram se tornando repetitivas, mas ainda davam prazer. A catalogação dos filmes assistidos, junto com nomes do diretor, produtor, roteirista, etc. eram cansativas, mas era preciso continuar um trabalho iniciado anos atrás. B sentia prazer na leitura. Em um ano leu todas as obras do Stephen King. No outro dedicou-se a Sidney Sheldon. Depois passou para livros de outros países. Mais tarde pelos clássicos da literatura brasileira. Então decidiu ler todas as obras dos últimos vencedores do Nobel de literatura. Parecia que não acabava nunca: havia sempre muito mais para ler, mesmo que dos romances e contos lidos há poucos anos restasse apenas uma pequena lembrança - talvez em algum momento fosse hora de reler tudo. C era aficcionado por música. Cada minuto livre era dedicado a curtir o repertório preferido, e conhecer novos sons. Com o tempo passou a ler biografia das bandas, livros de história da música. Tornava-se cada vez mais um especialista no assunto. Não desconhecia música indiana, búlgara ou japonesa. Era quase uma obrigação buscar sempre novas informações, curiosidades e tendências. Todos os três passam 8 horas por dia em trabalhos monótonos, e à noite podem se dedicar àquilo que gostam. Quando estiverem velhos possuirão considerável experiência acumulada em seus hobbies, o que certamente lhes trará visão de mundo um pouco mais ampla.

D sempre trabalhou em uma empresa privada como administrador. Preocupado primordialmente em manter o emprego, para não se ver de ma hora para outra sem renda, dedicava-se ao máximo a fazer um bom trabalho, e jamais dar motivos de reclamação. Chegava em casa cansado e estressado, mas sempre com energia para acompanhar a única coisa que lhe tranquilizava de verdade: futebol. Deve ter assistido mais de 10 mil partidas durante a vida, e nos dias sem jogos ao vivo acompanhava as mesas de comentaristas. Sempre que podia ia ao estádio, e entre os amigos era reconhecido como um verdadeiro aficcionado. Aquilo tudo parecia sem sentido para algumas pessoas que olhavam de fora, mas para ele o trabalho é que não tinha sentido (que não ser o ganha pão), e aquilo era bom porque dava prazer.

Enquanto isso, E era jornalista e tinha horário flexível. Muitas vezes trabalhava em casa, o que era perfeito para levar a vida como gostava: viajando muito. Gabava-se de ter visitado todos os estados brasileiros e 3 continentes. Seu sonho maior no momento era ir à Antártida. Ao longo do tempo, conhecia profundamente os truques para comprar passagens com desconto, pegar trens em praticamente qualquer lugar do mundo, ou como encontrar hotel de baixo custo e qualidade aceitável. Escreveu um blog de viagens com número razoável de acessos, onde compartilhava suas experiências. Era conhecedor de hábitos linguísticos, alimentares e culturais de todos os cantos do planeta. Tinha muitas histórias de confusões para contar, pois já havia se perdido em mais de dez cidades com idiomas diferentes.

Finalmente, F era o que se podia chamar de generalista, e representava a maioria da população. Não tinha nenhum interesse particular, mas esporadicamente apreciava esportes, passeios, compras, shows. Em resumo buscava a diversão, embora inconscientemente e sem foco.

Todos eles na verdade dividiam a vida em 2 partes: trabalho chato remunerado e trabalho prazeroso não remunerado. Tornaram-se altamente experientes em burocracia e arte, administração e futebol, jornalismo e viagens. Da mesma forma, outros indivíduos viraram especialistas voluntários em jardinagem, ciclismo e artes marciais.

Nas proximidades de completar 70 anos, todos tiveram algo que talvez se possa chamar de compreensão súbita, iluminação, insight ou satori.

"Passei os melhores e mais numerosos anos da vida dedicados a meu empregador. Tudo isso foi para ter condições de levar uma vida boa, para aproveitar meu tempo livre com qualidade. Mas o que fiz da minha vida? Dediquei toda a energia que sobrou basicamente para este hobbie, que olhando agora é muito superficial perto de tudo o que eu poderia ter feito. Agora sou velho e aposentado, não tenho mais vontade nem fôlego para fazer intensamente o que deveria ter feito durante todo esse tempo. De que me vale ter assistido a tantas histórias que se repetem ciclicamente? Lido thrillers meticulosamente criados para prender a atenção? Escutado música burocraticamente? Saber que em certo ano tal time foi campeão, e no ano seguinte quem ganhou foi o rival? Conhecer milhares de lugares nos quais vivem pessoas com as mesmas qualidades e defeitos? Fazer de tudo um pouco sem muito critério, profundidade e objetivo? Dediquei minha vida para me inebriar com a ficção."

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ter ou ser? (revisitado)

por Alberto Ronconi


O lema da atualidade é: não acumular coisas, mas sim experiências. O importante não é mais ter, e sim ser.

Mas quais são as experiências que realmente valem a pena?

Preciso pelo menos uma vez na vida:
  • pular de paraquedas
  • tomar café num boulevard em Paris
  • visitar as pirâmides do Egito
  • curtir uma balada em Barcelona
  • passear com os amigos na Disney
  • comer gafanhoto no palitinho 
  • assistir a uma peça de Shakespeare
  • ouvir uma orquestra sinfônica internacional
  • ver todos os filmes do Fellini
  • ir ao Rock in Rio
  • presenciar uma corrida de F1
  • fazer aula de mergulho
  • voar de helicóptero
  • dirigir uma Ferrari
  • realizar uma fantasia sexual maluca
  • ir a todos os jogos do meu time em uma temporada
  • experimentar whisky 30 anos

É um engano achar que essas serão as "experiências da vida", que ampliam a visão de mundo e nos tornam pessoas "viajadas" ou "vividas". Pode ser que isso seja o consumismo de sempre - necessidades criadas por campanhas de marketing do século XXI.

Existem coisas muito mais complexas e profundas para se fazer, que em geral não requerem viagens para lugares distantes ou grandes dispêndios. Tocar em uma banda. Conseguir escrever uma poesia. Identificar os diferentes tipos psicológicos e conseguir fazer uma "penetração mental" nas pessoas. Conseguir fazer com que os outros se sintam à vontade quando estão conosco. Ser capaz de proferir um discurso. Compreender os fundamentos da física do nosso universo. Conhecer os grandes períodos da história do mundo e buscar entender o que motivou os indivíduos em cada época. Conhecer as próprias deficiências e as próprias possibilidades. Ser capaz de viver conscientemente. Ser forte o bastante para aproveitar os prazeres físicos sem se entregar a nenhum vício, como a comida, preguiça, etc. Sentir prazer ao apreciar arte. Encontrar o sentido da própria vida.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Qual o sentido da vida?

por Alberto Ronconi


Para os cristãos é buscar uma vida de sacrifício e sofrimento, que resultará na felicidade após a morte.

Para os existencialistas a vida ainda não tem sentido, e cada um precisa criar um para si mesmo.

Para os ateus é acumular conhecimentos e memórias que desaparecerão com o tempo (num instante, na escala de tempo cósmica).

Para os niilistas não há sentido no caos e no absurdo.

Para os espíritas é dedicar-se integralmente a ajudar aos outros.

Para alguns orientais é desprender-se de qualquer prazer dos sentidos.

Para os que praticam Logosofia é evoluir em direção à perfeição e tornar-se um servidor da humanidade.

Para muitos é criar bem seus filhos.

Para outros tantos é destacar-se da multidão anônima, obtendo sucesso profissional ou artístico, ou quebrando algum recorde.

Para ainda outros, é construir condições para uma aposentadoria tranquila.

Para alguns vaidosos, é cravar seu nome na história.

Para os consumistas é adquirir bens e experiências.

Para os errantes é estar sempre em trânsito.

Para os amantes da rotina e os inseguros é viver cada dia com a mesma certeza do nascer do sol.

Para os dependentes essa pergunta não faz sentido, só o que importa é o agora: satisfazer o vício.


Penso neste assunto com frequência, e certamente meu conceito vai mudando com o tempo. Para mim o sentido da vida é trabalhar. Trabalhar incansavelmente, permanentemente, de forma vitalícia. Mas não para uma corporação, associação ou burocracia. E sim pelo aperfeiçoamento, o próprio e o da humanidade. É só com o trabalho intenso que o descanso é prazeroso. É só com ele que há assunto verdadeiro no relacionamento com outras pessoas, tornando a convivência extremamente agradável.


Outras relações de possíveis sentidos para a vida:

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Fábula - E o Nobel vai para

por Alberto Ronconi


Este ano nasceram um milhão de ganhadores do prêmio Nobel.

Quatrocentos mil tiveram uma família desestruturada, que não criou condições de aprendizado, e foram desperdiçados.

Trezentos mil tinham pais que queriam uma vida melhor para os filhos, mas tiveram que começar a trabalhar aos 18 anos em áreas que não requeriam qualificação, para ajudar nas despesas. Permaneceram fazendo bicos por toda a vida.

Duzentos mil não precisariam trabalhar prematuramente, beneficiados pelo sacrifício dos pais. Mas nasceram em países ou regiões onde não havia oportunidades de estudo de mínima qualidade. Acabaram em atividades agrícolas ou com um modesto negócio próprio.

Cinqüenta mil tinham tudo para dar certo, mas foram influenciados pelos amigos e pela vida em grupo e mudaram completamente de área, geralmente com tendências comunistas, utópicas ou hedonistas. Ou viraram burocratas do governo.

Trinta mil tiveram acesso a boa educação. Mas sofriam de déficit de atenção (TDAH), e ao iniciarem mil atividades diferentes, não terminaram nenhuma. Acabaram supervalorizando suas múltiplas teorias simplórias, ficando ressentidos com o mundo pelo pouco reconhecimento.

Quinze mil aprenderam muito na escola, mas a timidez excessiva, ou em alguns casos até fobia social, os afastaram do convívio com seus pares, o que prejudicou possibilidades de destaque na vida.

Cinco mil possuíam todas as condições necessárias, mas doenças ou acidentes, com causas alheias a sua atuações, tiraram seu foco da carreira.

Quem acabou ganhando o Nobel foi um que não chamou qualquer atenção até a idade adulta, mas que tinha paixão pela área em que atuava, obsessão por atingir seus objetivos e, de alguma forma, certeza do sucesso. Sem jamais ter se interessado por leituras de auto-ajuda, programou sua mente para vencer.

sábado, 3 de setembro de 2011

Vencendo a barreira potencial

por Alberto Ronconi


Algumas vezes levamos a vida toda para corrigir algum defeito. Seja a timidez, alguma fobia ou uma crença errada. Adquirimos o problema na infância e o vencemos na velhice. Ou seja, sairemos do mundo do mesmo jeito que entramos. É necessário corrigir todos os defeitos que surgiram depois do nascimento e ir além, produzir algo útil, para deixar um saldo positivo.

O simples fato de nascermos e a confrontação entre nossas necessidades instintivas e a realidade do meio já petrificam deficiências em nossa personalidade. Deficiências essas que agirão como uma corrente contrária para que realizemos algo.

Mas o foco último deve ser no que fazemos de novo, no que transcendemos nós mesmos para criar habilidades novas ou pensamentos úteis que se propaguem pelo mundo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tem vezes que não gosto de nada

por Alberto Ronconi


Para que sair para beber e se divertir, se amanhã isso não fará muita diferença, como hoje não faz a diversão de ontem? Bons momentos do passado, ao serem recordados, fazem reviver em nós parte da felicidade experimentada, dirão alguns. Ou então apenas descobre-se que foi tudo superficial, chato e sem relevância. A verdadeira felicidade não está em viver mais do mesmo.

Preciso sair para comer algo saboroso para me sentir bem, preciso ver o próximo episódio do seriado para me sentir bem, preciso acessar sites de pornografia para me sentir bem. Tudo é uma grande mentira, nada disso dá prazer realmente, apenas serve para acalmar o vício por um tempo. O prazer só existe nas primeiras vezes que vivemos essas situações.

Um truque fácil para se sentir bem: ver que existem muitas pessoas numa situação pior que você. Se você não é da classe baixa num país sem saúde pública como os EUA, nem num país sem liberdade para navegar na internet como a China, nem na África, já estará melhor que muita gente. Se tem saúde, ou capacidade para ler e interpretar um texto, está melhor que tantos outros. Mas nada disso importa. O que importa é estar melhor que o vizinho do prédio, o colega de trabalho, o grupo de amigos, só isso nos dá tranquilidade.

Conforme se vai ficando velho, nada mais tem graça. Já consigo prever o final dos filmes, já conheço o sabor de praticamente todas as comidas à minha volta, já sei que a vida não beneficia sempre o mais esforçado. Não aguento mais ouvir os mesmo clichês. Sei que o dia-a-dia de trabalho não costuma ser tão legal como pintavam as matérias que estudei na escola e que muito me entusiasmaram. Futebol é sempre a mesma coisa: a longo prazo todos os times grandes terão sido muitas vezes campeões. Já notei há muito tempo que as propagandas na TV só apelam para o emocional. Que a maioria das pessoas ultra simpáticas que cruzam meu caminho estão na verdade tentando me vender algo. Já percebi que viajar para lugares glamurosos não tem nada demais: basicamente filas, ruas, pessoas. Estou ciente que os casos mais incríveis de coincidência que ouvimos falar são na verdade histórias ficcionais.

Em conclusão. Para uma criança tudo é legal. Para um jovem adulto alguma coisa é legal. Para um velho pouca coisa é novidade. Mas é assim mesmo. Extrair algo novo vai ficando sempre mais difícil, delicado, refinado, conforme avançamos. É necessário um esforço cada vez mais intenso e complexo para obter um avanço cada vez menor. Os atletas de alto desempenho, ou os músicos virtuosos devem viver essa situação com bastante claridade.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Soneto 1

Sistema de equações
(Alberto Ronconi)


Mundo
Sistema subdeterminado
Mais perguntas que respostas
Vida é fé, futuro e esperança

Mundo
Sistema sobredeterminado
Mais respostas que perguntas
Vida é acaso, niilismo e caos

Álgebra na justa medida
Tudo se encaixa no conto de fadas
Finito mundo estático

Em tudo o que evolui está
O furacão que desequilibra
As equações das variáveis

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Viver é tão fácil

por Alberto Ronconi


Conselhos desse teor são fartamente encontrados em literatura de auto-ajuda, um tanto ridicularizada no meio acadêmico e cult. Naturalmente o hábito disseminado de deglutir um livro novo toda semana apenas acalma os pensamentos e move a imaginação, não produzindo mudanças duradouras. Mas a aplicação repetida e insistente de poucas e boas dicas advindas de autores competentes sem dúvida conduz a pessoa a uma posição bem acima da média.

Para viver uma vida tranquila, fértil e feliz, basta ter atitudes simples e muito lógicas.

Se alguém tem um problema, e ele não tem solução, fica tudo fácil: o problema já está solucionado; a solução é que ele não tem solução. A única coisa prudente a fazer é esquecê-lo totalmente e se preocupar com o resto da vida.

Se alguém pode sofrer ou não no futuro, dependendo dos acontecimentos, basta deixar para sofrer apenas se o acontecimento for desfavorável, quando ele acontecer; sofrer antes além de não ajudar nada só traz infelicidade.

Se alguém todos os dias fica uma hora revirando-se na cama depois do despertador tocar, só para se estressar chegando tarde no trabalho, é muito fácil: basta levantar logo ao primeiro toque. Além de ganhar uma hora no dia, evita-se a desagradável sensação de culpa que estraga o prazer de ficar na cama.

Se alguém está sempre tenso no carro, no metrô, na fila, andando a pé, e em todas as locomoções, por que não sair sempre alguns minutos antes para os compromissos? A vantagem será uma enorme leveza sobre os ombros e a desvantagem alguns minutinhos esperando o compromisso começar.

Se alguém tem algo desagradável a fazer e está adiando por livre vontade, além de um tempo prudencial de amadurecimento, apenas sofre desnecessariamente e desfruta com menos intensidade do que acontece de bom enquanto não resolve a questão. O que se faz: evita-se um sofrimento X para se ter em troca o mesmo sofrimento X e mais o sofrimento Y do adiamento.

Se alguém sabe que entrar em boa forma física certamente trará um prazer maior que o esforço necessário para fazê-lo, e mesmo assim não tem força de vontade, está em evidente contradição.

Algumas poucas vezes na vida conseguimos uma força "sobrenatural" e aplicamos alguma dessas ideias. Geralmente isso nos traz alívio, felicidade e uma promessa de agir sempre assim. Por que então, mesmo com o suporte da lógica e a evidência da comprovação, na maioria das vezes falhamos tão miseravelmente? Por que, paradoxalmente, viver é tão difícil?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Você acredita em Deus?

por Alberto Ronconi


Não é incomum ouvir pessoas fazendo essa pergunta umas às outras, até de forma banal, e a resposta ser automática e não ir além da superfície. Para mim, é uma questão que envolve definições, longe de ser trivial.

A conversa não faz sentido se não há, entre quem indaga e quem replica, um conceito comum sobre Deus. Por exemplo, quem pergunta pode estar querendo dizer: "você possui uma fé dogmática na existência de um ser que criou o nosso planeta, criou o ser humano, criou os animais, fez revelações à humanidade por meio das escrituras, e interfere na vida das pessoas produzindo milagres?" E quem responde pode estar expressando: "sim, julgo plausível conceituar como Deus o conjunto das leis físicas e extra-físicas que regem a evolução do universo desde sua formação, sendo elas as responsáveis pela criação do nosso planeta junto com tudo o que há nele; entretanto não acho que Deus interfira de maneira individualizada em nossa vida, na qual tudo o que acontece é resultado da atuação imparcial das mesmas leis".

Outra questão interessante é o significado de "acreditar". Em primeiro lugar, dizer que acreditamos em algo só porque nossos pais (ou alguém que admiramos) também dizem não tem muito valor. Afirmar que acreditamos só por medo de receber uma punição divina em caso de hesitação não nos torna melhores que os que têm dúvidas. E dizer acreditar só para não ter que ficar pensando no assunto não condiz com o espírito investigativo, o qual vem se mostrando absolutamente vitorioso na história da humanidade. Ou seja, a própria atitude de acreditar é evasiva, escapista, preguiçosa. Sabemos ou não sabemos; acreditar é um falso saber.

Ficam por fim algumas questões de suma importância. Como nos prevenimos de apenas acreditar nos outros dizem ser a verdade? Como evitamos o ceticismo absoluto que nega tudo a priori? Como contornamos o agnosticismo que nos declara incapazes de lidar com o que transcende o mundo físico?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Citações - Parte 1

No fim, tudo dá certo. Se não deu, é porque ainda não chegou ao fim - Fernando Sabino

Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno - Machado de Assis

Para que eu chore, é preciso que vós choreis também - Nicolas Boileau

O sentido da vida consiste em que não tem nenhum sentido dizer que a vida não tem sentido - Niels Bohr

A infelicidade é não saber o que se quer e fazer um esforço enorme para consegui-lo - D. Herold

Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos - Confúcio

Quer pouco: terás tudo. Quer nada: serás livre - Fernando Pessoa

O segredo da felicidade é ter baixas expectativas - Barry Schwartz

A capacidade de tolerância dos oprimidos provém de sua ignorância das alternativas.

As oportunidades sempre parecem maiores quando vão do que quando vêm.

Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida – provérbio chinês

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro - Clarice Lispector

Não posso lhe dar a receita do meu sucesso; mas a do fracasso é querer agradar a todos.

Não tomes um veneno só porque sabes qual o antídoto.

Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos - Anais Nin

Somos o que fazemos repetidamente. Por isso o mérito não está na ação e sim no hábito - Aristóteles

Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade - Bertrand Russel

É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe - Epíteto

Você existe apenas naquilo que faz - Federico Fellini

O homem que sofre antes do necessário sofre mais que o necessário - Sêneca

Muitos homens fracassaram em se tornar pensadores somente porque a sua memória é demasiadamente boa - Nietzsche

A essência do conhecimento consiste em aplicá-lo, uma vez possuído - Confúcio

A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos - Marx

Por enquanto, desisti de escrever - já que existe um excesso de verdade no mundo - uma superprodução que aparentemente não pode ser consumida! - Otto Rank

A maneira mais segura de jamais ter sequer um pensamento próprio é apanhar um livro toda vez que se tem um tempo livre - Schopenhaurer

É melhor vencermos a nós mesmos do que ao mundo - Sartre

Tu és metade vítima, metade cúmplice, como todos os outros - Sartre

É preciso ter a coragem de fazer como todo mundo para não ser como ninguém - Sartre

Seu tempo é limitado, então não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa - Steve Jobs  

Não se deve se comparar com os outros, mas com o melhor que se pode ser.

Nosso país é o mundo, nossos compatriotas são toda a humanidade - William Garrison

Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las - Voltaire

Se quiser ir rápido, vá sozinho; se quiser ir longe, vá em grupo - Provérbio Africano

O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções - Drauzio Varella

Fanatismo é sempre uma compensação para dúvidas ocultas - Jung

Toda felicidade vem do desejo pela felicidade alheia. Todo sofrimento vem do desejo individual de ser feliz - Shantideva

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente - Kierkegaard

É extremamente fácil enganar a si mesmo; pois o homem geralmente acredita no que deseja - Demóstenes

Cuide do fim como você cuida do começo, e não fracassará - Lao Tsé

Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar - Francis Bacon

Distração é a única coisa que nos consola de nossas misérias, embora seja ela a maior de nossas misérias - Blaise Pascal

Todos nós nascemos originais e morremos cópias - Jung

Cada um pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo - Tolstói

A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade - Kant

Nada está mais longe do homem ocupado do que viver; nenhuma coisa é mais difícil de aprender - Sêneca

A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente - Sêneca

Limitar-se a refutar uma filosofia significa não compreendê-la; é preciso ver a verdade que ela contém - Hegel

A liberdade nada mais é que a possibilidade de sermos melhores - Camus

Você nunca será feliz se continuar buscando o que é a felicidade. Você nunca vai viver se estiver procurando o sentido da vida - Camus

Uma meta espiritual, que aponte para além do homem meramente natural e de sua existência terrena, é exigência incondicional para a saúde da alma - Jung

O presente poderia ser comparado a um longo filme em que a memória e a expectativa selecionam momentos fotográficos - Alain de Botton

É muito melhor fazer um pouco com certeza e deixar o resto para os que vierem depois do que explicar todas as coisas por conjectura sem estar certo de nada - Newton

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Comportamento humano em frases curtas

por Alberto Ronconi


Muitos buscam satisfação ao levar um estilo de vida frugal ou minimalista - para compensar a insatisfação de não terem nem serem capazes de ganhar dinheiro.

Muitos acham que ao conhecerem o máximo de histórias possíveis, lendo milhares de livros e assistindo a milhares de filmes, evoluirão mais rápido - quando o que fica em nós é aquilo que fazemos múltiplas vezes, e é com a repetição que nos aproximamos da excelência.

Muitos não estão satisfeitos com o que fizeram da própria vida - como última esperança rezam para que os filhos causem impacto positivo no mundo.

Muitos sentem-se velhos para começar do zero a viver como agora acham ideal - e não sabem que o passado é custo afundado; dentro de dois anos lamentarão ter perdido mais dois anos.

Muitos observam do seu galho a festa no galho vizinho, que parece mais animada - quando pulam para ele, a festa já está acabando e prestes a começar no galho antigo.

Muitos decidem de uma hora para outra mudar radicalmente seu modo de viver - e esquecem que as mudanças abruptas não costumam ser duradouras.

Muitos pensam que se experimentarem os 1001 melhores {lugares / comidas / vinhos / discos / filmes / livros} antes de morrer sua vida terá valido a pena - na verdade poderão simplesmente ter sido consumistas.

Muitos observam que hoje suas convicções mais fortes são diferentes das de ontem, que por sua vez são diferentes das anteriores - mas é comum acharem que desta vez elas não mudam mais.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Aposta de Pascal atualizada

por Alberto Ronconi


Vamos traduzir a Aposta de Pascal para a realidade atual.

Suponhamos dois mundos possíveis:

A) a vida inteligente na Terra foi criada unicamente a partir da sopa primordial de aminoácidos sujeitos a descargas elétricas, sendo a evolução natural da matéria bruta. Nossa consciência é a resposta da evolução aleatória para a busca da perpetuação. Nascemos, crescemos, alguns somos felizes e outros não, alguns aprendemos as leis da física, da economia e da psicologia e outros ficamos ignorantes para sempre. Se nossa existência não parece fazer sentido, procriamos, na esperança de que a dos descendentes faça. Quando a vida física cessar, todos os conhecimentos, emoções e experiências internos que tivemos serão para sempre apagados - obviamente permanece o que nós modificamos no mundo. Nossa consciência sumirá para todo o sempre, e para nós não haverá diferença se fomos bons ou maus, realizados ou frustrados, conhecedores dos meandros da vida ou absolutamente vegetativos. Embora pudéssemos ter deixado um legado para a humanidade, o aproveitamento dele seria nulo, pois os que ficaram também desapareceriam no breu eterno após de uma curta existência estéril. Qual a vida ideal a levar neste mundo? Mesmo nele a vida pode ser um jogo de soma positiva. Se tivemos mais alegrias que sofrimentos, mais bem estar que mal estar, se nossos esforços foram como um todo recompensados, valeu a pena viver. Sendo assim, podem estar certos os que preferem abundância de prazeres gastronômicos, ou uma overdose de sexo, ou ainda o constante torpor causado por substância psicotrópicas leves.

B) quando nossa vida física cessar, uma parte de nós continuará viva e consciente disso, carregando consigo as experiências (e talvez boas e más ações) realizadas. Se isso acontece, significa que durante a vida fomos um ser imaterial presente em um corpo material. Aparentemente nada impede que no futuro esse ser imaterial habite outros corpos materiais. O que importa é que todo o conhecimento adquirido durante a vida (ou pelo menos a essência dele) de alguma forma continua com esse ser imaterial, que terá subido um degrau da existência durante a vida física que acabou. Há que se supor que o ser imaterial viverá para sempre, caso contrário redundamos na hipótese A. Qual a vida ideal a levar neste mundo? A busca pelo conhecimento, por habilidades, por experiências construtivas, por ser útil aos semelhantes, mesmo que à custa de esforços intensos e privações dos prazeres físicos.

Agora vamos supor que a probabilidade do mundo A ser o verdadeiro seja de 99,9% e a do mundo B ser o correto seja de 0,1%. De que maneira vale a pena viver, conforme o indicado para mundo A ou B?

Caso o mundo A seja o correto, o benefício será 0, não importa a forma como vivemos, já que seremos destruídos e a vida que levamos não fará qualquer diferença na eternidade.
benefício   =   99,9 % x 0   +   0,1 % x 0   =   0

Se o mundo B for o verdadeiro, o benefício será 0 se vivermos de acordo com o mundo A (pois desperdiçamos a vida com prazeres mundanos e não evoluímos nada), ou então um número positivo, como por exemplo 1, se vivermos de acordo com o mundo B.
benefício   =   99,9 % x 0   +   0,1 % x 1   =   0,1%

Desta forma, não importa o quanto seja pequena a probabilidade do mundo B ser o verdadeiro, desde que seja maior que zero, vale a pena vivermos como se estivéssemos no mundo B.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Extremismo ou o caminho do meio?


Na vida, devemos ser extremistas ou seguir o caminho do meio?

Não devemos ser tão extremistas a ponto de, paradoxalmente, buscar sempre o caminho do meio.

Na macroescala de tempo, nada como viver da emoção e da razão, dos números e das letras, da companhia e da solidão, do bom e do ruim, mudando sempre que a situação não oferecer mais possibilidades de aperfeiçoamento. É com uma visão do todo, ansiando por uma percepção acertada do nosso objetivo no universo, que conseguimos dar aos problemas e às perspectivas de evolução a dimensão que lhes cabe.

O ótimo é inimigo do bom. Se buscamos ser excelentes em tudo, acabamos frustrados e não ficaremos sequer bons em nada. O perfeccionismo exacerbado leva à paralisia, pelo risco de falhar.

Mas na microescala de tempo é necessário certo extremismo. Um feixe de luz não consegue arrancar elétrons de um material se sua energia for baixa, não importa o tempo de incidência – é necessária uma energia mínima. Da mesma forma, não conseguimos mudar de patamar sem um esforço concentrado. O "mais ou menos" se funde à massa anônima e logo será esquecido para sempre, como se não houvesse existido. Entretanto cabe parcimônia, pois como uma mola, que é elástica até certo ponto mas rompe caso a deformação ultrapasse sua capacidade, o ser humano possui limites físicos e psicológicos.

O bom é inimigo do ótimo. Ficar em segundo lugar numa eleição presidencial ou numa disputa por um contrato é quase a mesma coisa que nada. Nesses casos a excelência faz toda a diferença.

O personagem Senhor Miyagi explicou certa feita: "quando se caminha pela rua, andar do lado esquerdo: bom. Andar do lado direito: bom. Andar pelo meio: te pegam que nem uva." Isso significa que a indecisão, ou a vontade de abarcar tudo, tendem a nos tornar medíocres. Por exemplo, nenhum profissional de sucesso é mediano naquilo que faz. Pode não ser bom em outras coisas, mas na sua área específica detém conhecimentos pontuais. Ou seja, o extremismo nos diferencia no mundo, torna-nos únicos.