quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Outro conceito de super-homem

por Alberto Ronconi


O livro "O Senhor de Sándara" (pág. 221), de González Pecotche, apresenta um método peculiar de modelar o super-homem - conceito popularizado por Nietzsche, mas abordado por vários outros autores, como Dostoiévski. Recomenda o livro que criemos um personagem arquetípico (que poderia ser nós mesmos), para então o induzirmos a realizar gestos virtuosos e sair-se bem das situações em que se coloque. Depois o comparamos conosco mesmo e decidimos se devemos imitá-lo. Fazendo eu esse exercício, o super-homem:

Possui um objetivo geral na vida (como trabalhar pelo crescimento, tanto próprio quanto alheio). Tem também sub-objetivos, um para cada área da vida. Sabe em linhas gerais o que pretende da vida profissional, da cultural, da de relação com os amigos, da familiar.

Ė dotado de uma porção de autoconfiança a priori, ou seja, não sofre do medo do ridículo em relação àquilo que manifesta ou apresenta. Sabe que, se o que fez der errado, não havia mesmo outra maneira, pois aquela era a melhor maneira que podia agir.

Não sofre por antecipação, pois controlado pela sua imaginação viveria sempre as piores situações. Não fica ansioso por rastrear como vai a vida dos outros, temendo encontrar a felicidade e o sucesso que não vê na sua. Pois sabe que uma experiência tem significado diferente para cada um, e preocupa-se em recolher e aprimorar aqueles consonantes consigo próprio.

Consegue perceber o mundo à sua volta de maneira integrada, relacionando situações distantes mas semelhantes, e constantemente usa o que observa do mundo, dos indivíduos e da sociedade como gatilho para ideias criativas e produtivas. A cada fato que vive, relaciona automaticamente com o que já viveu, com o que pensa e com o que pode ser pensado.

Consegue agir prontamente, tempestivamente. Não sofre da paralisia inicial, que muitas vezes torna a ação desnecessariamente tardia e ineficiente.

Está bem consigo mesmo, satisfeito com a intensidade e veracidade de suas atitudes. Percebe que em essência ė a mesma pessoa diante dos diferentes grupos com os quais convive.

Teoria do gás

por Alberto Ronconi


Quando se injeta gás num recipiente, ele se expande até ocupar todo o espaço disponível. Se o recipiente aumentar de tamanho, o gás prontamente preenche o volume adicional.

Pode-se estender essa teoria para nosso comportamento do dia-a-dia. Cada um pode ter uma tendência maior para um caso específico dela, mas em todos se encaixa o rótulo de bitolado. Com isso temos a teoria do gás aplicada a:

  • finanças: encontramos utilidade para aplicar todos os recursos que temos. Se nossa vida já é como sonhamos um dia e ganhamos um aumento de salário, logo adquirimos necessidades de outro patamar de padrão de vida, como uma residência mais luxuosa ou uma casa na praia.
  • trabalho: suponha uma dona de casa perfeccionista que às 14 horas já terminou todas as tarefas previstas e a próxima atividade será só às 18 horas. Se ela não tiver outros afazeres pessoais, acabará procurando mais coisas para limpar, vai criar novas maneiras de organizar as co isas, etc., de forma que só se sinta bem se trabalhar ininterruptamente para evitar o ócio.
  • tempo: se de repente nos sobra um tempo livre porque deixamos de ter uma ativiade fixa, logo surge um incômodo, e a necessidade impulsiva de preencher esse tempo. "Acho que vou aprender italiano", ou "vou aproveitar esse horário para fazer uma nova faculdade" podem ser frases comuns. Assim não nos sentirmos mal por estarmos parados, mas também não nos damos a oportunidade de ter tempo livre para criar, pensar.

Nos sentimos mal quando já cumprimos nossa meta e ainda restam recursos disponíveis. Parece que não fizemos as coisas da melhor maneira possível. Corre esse risco quem trata as tarefas acessórias como fim, e não como meio.

Não sabem o que querem

por Alberto Ronconi


Se perguntadas, muitas pessoas dirão: "quero me formar em tal especialidade", ou "meu objetivo é passar num concurso público".

Entretanto, é no tempo livre que se observa a ordem mental de cada um.

Quando, no meio do dia, surge um buraco de duas horas para fazer o que quiser, é comum que um indivíduo se sinta perdido e acabe não realizando nada de útil, só para lamentar logo depois.

Como implementar os planos grandiosos que se tem para algum momento no futuro, como fazer uma viagem, assistir a todos os capítulos atrasados do seriado preferido, uma grande arrumação na casa, escrever um livro, nesse mísero tempo?

O curioso é que, se as repentinas duas horas livres se repetissem em um sem número de ocasiões, ainda assim as grandes obras não seriam sequer iniciadas, mesmo que a soma de todo o tempo livre fosse mais que suficiente para tal.

Quando não planejamos o que fazer nos momentos vagos, as primeiras coisas que vêm à mente são nossos pequenos vícios, como para alguns navegar aleatoriamente ma internet. Ou uma ideia rebelde de não fazer nada sob o falso pretexto de relaxar - mas não fazer nada desorganizadamente é cansativo e o tempo demora a passar.

A liberdade não existe

por Alberto Ronconi


Na Revolução Industrial os operários não eram livres. Trabalhavam não raro 16 horas por dia, desde a infância. Não tinham tempo para o lazer, para estudar ou para quaisquer atividades que tivessem vontade. Por isso pode-se dizer que não tinham liberdade.

Hoje a maioria das pessoas trabalha em torno de 8 horas por dia, dispondo assim de bem mais tempo que os trabalhadores de dois séculos atrás para fazer o que bem entenderem. Mas muitos preferem usar as horas livres investindo em aprendizado que os ajudará em suas carreiras. Outros optam por lazer (geralmente passivo), alegando que só assim descansam para o próximo dia de trabalho. Dependendo do ponto de vista, embora agora se tenha muito mais conforto e um padrão de vida absolutamente superior, não se pode dizer que se goza de liberdade.

Mas o que é ser livre? O que uma pessoa deveria fazer em seu tempo ocioso? O que bem entender, dirão alguns. Se um indivíduo fica 4 horas a fio assistindo letargicamente a programa atrás de programa, é isso o que está com vontade de fazer, logo está exercendo sua liberdade.

Entretanto, pode-se argumentar que ele não é livre, apenas refém da preguiça e da apatia. A liberdade requer libertação das amarras mentais, pensamentos depressivos, déficit de atenção, transfornos, fobias, estafa.

Supondo agora que alguém tenha conseguido controlar essas limitações, será livre para fazer o que quiser?

Depende. Se forem levadas em conta a lógica e a ética, a liberdade de um não pode limitar o direito do outro, caso contrário seria impossível a vida em sociedade. Só isso já imepede que liberdade signifique "fazer o que quiser quando quiser" - moral de Os Irmãos Karamazov.

Continuando, a mesma lógica nos priva de fazermos mal gratuito a nós mesmos. Seria uma liberdade contrária ao bom senso. Claro que alguém pode ter atitudes absurdas apenas para sentir-se livre em maior grau, mas fazendo algo que não traz benefício para ninguém. Logo, como liberdade prática isso não faz sentido.

Mas é possível analisar o fazer mal a si mesmo em um sentido mais amplo. Por que alguém ficaria se martirizando na cama depois do despertador tocar? Por que alguém comeria mais do que deve apenas para o sentimento de culpa eclipsar o prazer? Por que gastar as melhores horas da vida assistindo passivamente às mais diversas atrações criadas para entretenimento? Embora haja a liberdade teórica de se fazer isso, na prática também não vale a pena.

Já conseguimos limitar sobremaneira o conceito da liberdade: só é interessante fazer algo positivo para si mesmo ou para a humanidade.

Quanto mais se pensa, mais se percebe que várias atividades não fazem o menor sentido, e poucas são importantes (na verdade mandatórias) de fazer quando se usa o bom senso. O conhecimento restringe as possibilidades de atuação, enquanto a ignorância multiplica para mil coisas inúteis.

Você poderá argumentar: sou livre para escolher entre beber cerveja ou vinho, trabalhar com direito ou engenharia, ter filhos ou não, ser consumista ou minimalista.

É claro, mas muitas dessas escolhas são unicamente função de nossas características inatas, como habilidades, compatibilidade genética, ou nosso perfil psicológico. Decidir tomar água não é uma demonstração de liberdade, e sim uma prova de como somos indissoluvelmente ligados a necessidades físicas e preferências genéticas que não escolhemos.

E no fim das contas não faz diferença se bebemos café ou chá, e sim a vida como um todo que construímos para nós, acima da escolha da profissão ou do modelo do carro. Existem vários caminhos para se chegar a um lugar, mas certamente alguns são melhores que outros, e qualquer um consciente disso escolheria pegar o mais proveitoso.

Em última instância todos querem ser ricos (não simplesmente de dinheiro, mas de conhecimentos, habilidades, felicidade). Que liberdade é essa, que leva todo mundo a buscar os mesmos objetivos?


Atualização (8 de junho de 2012): aqui de certa forma foram trazidas ideias sobre o livre arbítrio, com inclinação ao determinismo. Outro texto interessante aqui: parte 1 e parte 3

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Manifesto

por Alberto Ronconi


A ideia do nosso blog não é propor uma nova filosofia de vida, até porque isso não seria um grande feito, já que existem milhares delas e não é difícil nos perdermos em suas definições.

Tentamos resumir a essência de alguns posts em tópicos.

  • não faz sentido o patriotismo - todos os cidadãos do mundo devem buscar o mesmo bem comum
  • o conhecimento é mais valioso que o conforto material ou a diversão
  • o trabalho (eficiente e eficaz) para o bem de si mesmo e da humanidade é o melhor uso possível que o homem pode dar ao seu tempo
  • julgar gratuitamente os outros é uma atitude superficial daquele que não conhece a si mesmo
  • entidades divinas não parecem interferir em nosso mundo, que é lógico e governado por leis de abrangência universal. No microcosmo individual, essas leis podem ter a aparência de acaso
  • se tudo acaba com a morte, não importa o que fazemos. Se não acaba, nossos atos podem ser úteis para além da vida. Como não sabemos o que acontece, o melhor é agir de acordo com a segunda opção
  • não existe o self made man, todos devemos alguma gratidão a tudo que contribuiu para formar nossa sabedoria 
  • a liberdade (em alguma acepção do termo) não existe. Temos que fazer o que é melhor para nós, nem mais, nem menos. Só nos achamos livres porque não sabemos o melhor caminho a seguir

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Alma gêmea

por Alberto Ronconi


Dizem que a alma gêmea de uma pessoa está entre os 3 bilhões de pessoas do sexo oposto que vivem no planeta. Mas essa informação é absolutamente equivocada.

Este artigo só contempla as pessoas que fazem parte da massa, não pessoas bizarras, estilosas, à la Rogério Skylab. Afinal mais de 90% das pessoas alegaria razões de foro íntimo, ou soberania individual, para não se envolver com gente de diferentes estaturas, peso, raça, etc.

Das 3 bilhões de pessoas do sexo oposto, quantas uma mulher alta e bonita tem à sua disposição para encontrar sua alma gêmea? Pouquíssimas... Se seu companheiro ideal for baixinho, ou gordo, ou feio, ela nunca o conhecerá. Logo de cara restringirá seus potenciais pares para menos de 1% da população.

Da mesma forma um homem rico e minimamente bem apresentável. Ou vai procurar uma mulher bonita, ou uma rica, ou uma que junte as duas condições. Jamais daria chance para alguém pobre de beleza mediana. Também só terá 1% da população feminina mundial como possíveis affairs.

Ou seja, ou nossa alma gêmea se encaixa nas características físicas, sociais e geográficas de nosso interesse, ou provavelmente não a encontraremos.