sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Filosofia do século XXI e além

por Alberto Ronconi


O homem da idade da pedra provavelmente só se preocupava com alimentos e abrigo. Certamente devia ser muito excitante e recompensador quando obtinha sucesso absoluto, mas não havia muito tempo para divagar; logo era necessário recomeçar a jornada. Isso devia manter sua mente ocupada, de maneira a não sobrar espaço para preocupações existenciais.

Hoje já começamos tendo de graça tudo o que os antigos trabalhavam a vida toda para conseguir. A rede de proteção do estado e os baixos preços da produção em massa nos fornecem comida em abundânica, alguma assistência à saúde na forma de vacinas e remédios simples, e ao menos um lugar para dormir. Homens do serviço público fazem nossa segurança, e sempre é possível encontrar educação gratuita em algum nível. Mais que isso: a Wikipedia, livremente acessível em todos os lugares e idiomas, disponibiliza mais informação que uma livraria inteira.

Ou seja, qualquer pessoa pode abdicar completamente do trabalho remunerado e mesmo assim viverá com relativo conforto, e terá um acesso infinitamente maior ao conhecimento se comparada ao homem das cavernas.

Mas o que vemos são muitos trabalhando incansavelmente para aumentar seu poder de consumo. Torna-se inclusive cada vez mais difícil trabalhar o suficiente para acompanhar um padrão médio de consumo que só cresce.

A filosofia do século 21 é:
  • consuma tudo aquilo que tiver um bom custo benefício para lhe dar prazer
  • se realize encontrando um trabalho desafiante e motivador
  • consuma viagens a lugares distantes para ampliar seus horizontes
  • no pouco tempo que sobrar, relaxe e fale bobagens com as pessoas que você gosta
  • absorva ao máximo as informações aleatórias que cruzarem seu caminho, para não se alienar
  • troque dinheiro por conforto, ainda que para conseguir este dinheiro seja necessário abrir mão do mesmo conforto
  • para não ficar triste na velhice, continue trabalhando ou desenvolva um hobby para passar o tempo

Em algumas décadas isso tudo perderá o sentido. Quando a maioria da sociedade cansar dessa vida - e essa mudança de fase acontece desde sempre - novas questões ocuparão o centro da atenção humana.

A filosofia do futuro poderá ser:
  • trabalhe o mínimo possível, somente para ter o necessário para a subsistência
  • não perca muito tempo com hobbies inúteis
  • divirta-se produtivamente com as pessoas que você gosta
  • dedique a maior parte do tempo para, com tranquilidade e motivação, pensar, ampliar sua visão sobre si mesmo e o mundo, e descobrir o sentido da vida

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O prazer e o vício

por Alberto Ronconi


Quando uma coisa é boa, queremos fazer sempre.

Se descobrimos que é um grande prazer comer bem, comer o de sempre fica sem graça.

Logo começamos a comer bem todos os dias, se possível mais de uma vez.

Mas o problema é que isso deixará de ser um prazer, e vai se tornar quase uma obrigação.

Não sentiremos mais a felicidade que é um sabor delicadamente inesperado bem na hora da fome.

E voltar a comer no padrão de antes soará insuportável.

Portanto, uma questão crucial para a manutenção dos pequenos bons momentos, que são os tijolos da felicidade:

Como se entregar apenas temporariamente a um prazer, na certeza de que é sua inconstância que o torna tão bom?