sábado, 31 de dezembro de 2011

Hobbies e a dedicação ao estudo da Natureza

por Alberto Ronconi


Algumas pessoas de repente descobrem o hobby com que se identificam. Muitas vezes demora, mas quando elas descobrem, dizem que "se encontraram", passam o dia pensando naquilo, falam dele com entusiasmo para os outros, e não raro ficam mais animadas e bem dispostas em todas as atividades diárias.

Mas esses passatempos, em que a dedicação não é remunerada (e inclusive podem custar caro), vão tomando um tempo crescente da pessoa. Pode ser tocar um instrumento, praticar um esporte como o triatlon, construir aeromodelos, cultivar bonsais - para adquirir níveis crescentes de maestria é necessário uma aplicação cada vez maior de energia e tempo, ainda mais quando se começa a participar de competições entre amadores.

Somado à atividade profissional, o hobby acaba por consumir toda a disposição da pessoa, de forma que não sobra espaço para um estudo aprofundado da Natureza, aqui entendida como o si mesmo mais o mundo como um todo.

Será que pelo fato da pessoa sentir-se realizada esse estudo pode ser ignorado, e deixado para aqueles que o tenham como hobby? Ou será que com essa sensação de plenitude, vontade de superar limites, e felicidade ao atingir seus objetivos, os hobbistas apenas desviam sua atenção de um assunto que deveria ser o foco de todos?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

E se tudo for apenas seguir as etapas?

por Alberto Ronconi


Pode ser que o sentido da vida seja simplesmente seguir a receita de bolo vigente na cultura de cada um.

Por exemplo: brincar na infância, depois estudar, se dedicar aos amigos e grupos na adolescência, estudar mais, casar, trabalhar, ter filhos, fazer um esforço financeiro, melhorar na carreira, se aposentar, encontrar um passatempo, ter problemas de saúde e morrer.

Quem percorre uma sequência de experiências, como por exemplo a acima exemplificada, certamente lida com os próprios medos e limitações, tem as mais diversas experiências, passa a conhecer mais o mecanismo da vida, cria habilidades e competências. Conscientemente ou não, o ser muda muito do começo ao fim, moldando suas atitudes e pensamentos à realidade do mundo. Entra na vida cru e sai calejado pelo mundo real.

E se o nosso objetivo na vida for exatamente esse, e os que se dedicarem a questões filosóficas apenas desperdiçarem o tempo em que poderiam estar vivendo de verdade, tendo experiências comuns?


Atualização (24/05/2012): encontramos pensamento semelhante em coluna da Folha de São Paulo, por Contardo Calligaris: O Sentido Faz Falta?

O sentido de se preocupar com o sentido da vida

por Alberto Ronconi


Faz sentido alguém se preocupar com a razão da própria existência? É um assunto que consome muitíssimo tempo para ser estudado e analisado, com o agravante de provavelmente não se chegar a uma conclusão definitiva. Será que procurar o sentido da vida não é uma perda de tempo que impede de viver realmente?

É digno de nota que nos interessamos mais pelo assunto nos momentos difíceis. Se estamos felizes e ativos e tudo vai bem, parece que não há essa disposição natural em pensar no porquê das coisas. Mas quando algo nos angustia, quando nos deparamos com o sofrimento, naturalmente vêm à tona indagações a respeito da nossa existência. A melancolia é um ímã que atrai a busca pelo sentido da vida. Resta saber se isso é bom ou ruim, real ou um engodo.

Os momentos de euforia atuam como psicotrópicos que nublam nossa visão para o que realmente importa? Ou a tristeza tem como efeito colateral crises existenciais que, tal como uma indisposição, passam naturalmente conforme voltamos ao normal?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O trabalho e o que realmente importa

por Alberto Ronconi


Qual a função do trabalho profissional? Apenas fornecer conforto para que possamos nos dedicar à vida no tempo que sobra? Ou ele tem uma função intrínseca, como se parte do sentido da vida fosse trabalhar?

Alguém com situação econômica folgada deveria trabalhar, ou estaria apenas desperdiçando seu tempo? Postergar a aposentadoria além do tempo necessário pode ser bom ou necessariamente quem faz isso está se privando da verdadeira vida?

Sem dúvida é possível evoluir muito ao trabalhar, para os que estiverem dispostos a isso. Organização, paciência, como lidar com a inveja, como trabalhar em equipe, como agir sob pressão, como aproveitar o tempo, como transformar uma ideia em realização. E pratica-se tudo isso recebendo um pagamento!

E quanto mais interessante for a função, mais conhecimentos e experiências para a vida podem ser adquiridos. Será que a sensação de criar algo grandioso, juntando pequenos pedacinhos e envolvendo várias pessoas para ver uma nova solução se formando passo a passo, não é semelhante à do artista quando finaliza uma obra?

O aprendizado para a vida não precisa necessariamente ser construído fora do trabalho. Com isso, não se pode dizer que a vida de quem se dedica inteiramente à profissão careça de sentido. Mas o foco precisa ser nas virtudes, e não no trabalho em si nos seus aspectos técnicos.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Escolas do pensamento filosófico recentes

Nos últimos dois séculos surgiram algumas doutrinas filosóficas voltadas para o sentido da vida do homem num universo em que Deus ou não tenha tal preocupação ou sequer exista.

As três filosofias a seguir listadas se apresentam como distintas entre si. Mais de um filósofo trabalhou em cada uma delas, cada um com seus próprios conceitos e ideias, de modo que não existe uma única definição precisa das doutrinas. Aqui se mostram os pontos de vista relacionados a um pensador em particular.

existencialismo ateu: sua proposição central é que "a existência precede a essência". Isso significa que primeiro o homem existe e toma consciência disso, e depois deve criar um sentido para a sua vida. Ou seja, o sentido para a vida existe, mas precisa ser criado pelo próprio homem. É como se os homens assumissem o papel de deuses, dando o rumo para si e para a humanidade. Nome proeminente: Sartre.

absurdismo: um sentido universal para a vida pode existir ou não, mas o homem não pode conhecê-lo, embora tenha a tendência a procurá-lo. O absurdo é causado pela existência simultânea do Universo e da mente humana. Não se aplicam regras éticas, pois elas são baseadas em justificações; o "tudo é permitido" não é um alívio, mas o amargo reconhecimento de um fato. O que cabe ao homem é aceitar o absurdo como inevitável para ser livre, e levar uma vida de revolta contra ele. Qualquer sentido particular que o homem queira dar para sua própria vida tem que levar em conta o absurdo. Nome proeminente: Camus.

niilismo: não existe o sentido da vida. O Universo e a existência humana não têm significado, propósito ou valor intrínseco. Nome proeminente: Nietzsche.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Altruísmo, missão ou glória

por Alberto Ronconi


Quando temos um entendimento bombástico sobre o mundo, que nos faz sentirmos mais evoluídos que antes, surge a necessidade de compartilhá-lo com o resto da humanidade, para que os demais desfrutem de nossa compreensão mais aguçada.

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A certeza que vamos deixar de existir no mundo, ao menos fisicamente, aumenta com o passar dos anos. Paulatinamente vamos nos preocupando com um legado, algo de inovador e positivo a deixar na Terra para que nossa existência nela não seja em vão. Qualquer coisa que facilite, alegre ou adicione novas perspectivas às vidas das pessoas, mas que sejamos lembrados pelos que nos sucederem.

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Parte importante da satisfação do ser humano médio é ser reconhecido. Exalarmos sucesso, glória, importância, ou ao menos os demais pensarem que somos superiores e especiais em algo. Infeliz daquele que está na escala mais baixa, que admira ou inveja os outros nos mais diversos aspectos e não é admirado ou invejado em nenhum sequer - é como se sua existência ou não fosse completamente insignificante. Quantos momentos difíceis da vida são suportados ao pensarmos que sempre há alguém em situação pior que a nossa.




O instinto quer exibir a glória como um troféu. A mente, quando se percebe efêmera, quer se eternizar, cumprindo uma missão. E uma parte nobre do ser humano quer apenas ajudar, ainda que anonimamente, e sente o maior prazer nesse altruísmo.

Como se confundem esses três comportamentos! Muitas vezes estamos em um deles e de repente resvalamos imperceptivelmente para outro, numa sequência cíclica que varia conforme nosso estado psicológico! Aí surge a dúvida: será que estamos buscando a razão de nossa vida, ou apenas a fama? Será que estamos melhorando o mundo, ou apenas causando poluição com nossas ideias rasas?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como deixar um legado?

por Alberto Ronconi


Dentre as pessoas que têm um grande objetivo, este é um dos principais. Afinal nossa passagem pelo mundo é efêmera, um piscar de olhos no tempo cósmico. Se não deixarmos um legado, tudo o que fomos na vida terrestre morrerá conosco. E se conseguirmos, de certa forma nos tornaremos imortais, pois uma parte de nós continuará presente indefinidamente.

Mas surge a primeira questão: todos deveriam deixar um legado? Isso é logicamente improvável, pois pouquíssimos são os que se destacam no mundo. Por mais que todo mundo tente, talvez um em um milhão consiga ter suas ideias conhecidas e constantemente recordadas um século depois de sua morte. (Seguindo esta  hipótese, daqui 100 anos continuarão importantes ou influentes apenas 7 mil das pessoas que estão vivas hoje.)

Ser recordado durante 100 anos e depois esquecido também não parece algo muito diferente de ser recordado apenas durante a vida. O impacto causado no mundo teria que ser forte o bastante para durar milhares de anos.

Mas atualmente produzem-se milhares de filmes, músicas, pinturas, livros, filosofias todos os anos. A quantidade de informação criada por uma geração vem crescendo exponencialmente, e logo será impossível que se conheça tudo o que de importante foi criado desde o surgimento do homo sapiens. Os pioneiros, como Platão, Newton, Shakespeare, da Vinci, Beethoven, jamais serão esquecidos. Mas os que apenas deram sequência a essas ideias inovadoras tenderão gradualmente a se fundir em uma grande multidão. E não há como todo mundo supor que produzirá impacto igual ao dos grandes nomes.

Um bom ator de teatro é esquecido muito rapidamente, já que não deixa registros físicos. Mas um de cinema também não será conhecido quando existir uma coleção de um milhão de filmes na humanidade.

Se uma pessoa faz um bem a outra, pode causar grande impacto a curto prazo. Mas com o passar dos anos isso vai se atenuando, à medida que surgem novas necessidades. Até salvar uma vida pode ser algo com pouco impacto no longo prazo, se a pessoa salva não produzir nada que mude o mundo.

Educar bem os filhos apenas passa a responsabilidade de deixar um legado para as futuras gerações.

A conclusão é que alguma filosofia precisa consolar os bilhões que serão irremediavelmente apagados da história dentro de mil anos, um tempo tão curto que representa menos de um décimo de milionésimo da história do Universo.