domingo, 27 de novembro de 2016

Livre arbítrio no homem racional

O senso comum imagina que, naturalmente, temos livre arbítrio, pois podemos escolher o que comer no almoço, a nossa profissão, como dispor do tempo livre, etc.

Existe também a corrente contrária ao livre arbítrio; o determinista Laplace já havia sugerido uma calculadora que, em posse de todos os dados sobre o mundo, poderia calcular com exatidão os estados futuros, incluindo a disposição das partículas do cérebro humano, o que implica em conhecer nosso comportamento. Até alguns estudiosos do cérebro atualmente colocam em dúvida a ideia do livre arbítrio, ao demonstrar em experimentos que, quando achamos que estamos tomando uma decisão, nosso cérebro já havia decidido alguns instantes atrás, sem que tivéssemos consciência. Também poderíamos argumentar que, por exemplo, ninguém escolhe sua profissão de maneira totalmente livre, mas sim influenciado por sua condição econômica, por algum professor carismático, ou em consonância com habilidades que a pessoa simplesmente descobre em si.

Entretanto, é possível levantar outro ponto. Se somos racionais, e estamos sempre tentando fazer a coisa certa, aquela que melhor atenda aos nossos interesses (sejam eles egoístas ou altruístas), então como podemos ter livre arbítrio? Se a nossa decisão sempre será aquela que nos beneficiará, limitada obviamente por nossa capacidade de decidir e por nossas fraquezas, como podemos estar "escolhendo" algo?

É claro que tomamos muitas decisões erradas. Fazemos coisas que nos arrependemos depois, e pior, fazemos coisas já sabendo que vamos nos arrepender. Nesse ponto podemos responder que é possível ter livre arbítrio: a escolha entre a virtude e o vício. Mas muitas pessoas tentando emagrecer sabem que a escolha não é irrevogável.

Mas, supondo agora uma pessoa que opte totalmente pelas virtudes em detrimento do vício. Que consiga estudar à noite, acordar cedo, comer de modo saudável e cuidar das pessoas próximas. Mesmo esta pessoa vai se deparar com diversas escolhas: como ter uma vida com sentido, como aproveitar o tempo, que tipos de assunto estudar, etc. Ela pode fazer escolhas erradas, mas terá sido por incapacidade de ter uma visão ampla do mundo, ou por azar. Na medida em que ela sempre tenta escolher o que é melhor para ela, dadas as condições do momento, onde está o seu livre arbítrio? Ela pode escolher entre pensar, descansar, ter prazer, trabalhar. Mas fará isso sempre com o objetivo de ser uma pessoa melhor. Escolherá o que ela julga mais propício para ser melhor - então as escolhas não são livres, e sim dadas por uma equação que independe da vontade da pessoa. Ninguém fará uma escolha com o único objetivo de sofrer, de se dar mal.

Isso quer dizer que, independente de Laplace ou das peças que prega nosso inconsciente, as pessoas que decidem ser racionais perdem a partir daí o livre arbítrio?