sábado, 20 de setembro de 2025

A grandiosidade do ser humano

Como o homo sapiens pode ser tão incrível?

Todas as bilhões de pessoas do mundo, mais as 100 bilhões que já viveram no planeta nos últimos 50.000 anos, demonstram enormes habilidades.

Imagine a complexidade de dirigir um veículo. É preciso estar atento a uma enorme quantidade de variáveis a cada instante, além de ter um senso de localização que demanda a construção de um mapa mental. E um bilhão de pessoas fazem tudo isso sem muito esforço, em qualquer cidade de qualquer país.

E como os humanos conseguem tocar instrumentos musicais? Como um baterista sabe exatamente em que instante precisa bater em cada tambor, a uma velocidade assustadora, em centenas de músicas diferentes? Como os humanos conseguem memorizar letras de músicas após ouvi-las poucas vezes?

Quando vemos uma pessoa competente fazer um discurso, em poucos minutos ela consegue abordar assuntos extremamente diversos e abstratos, como filosofia, saúde, cotidiano, política, arte, estrutura organizacional das empresas. E todo mundo acompanha perfeitamente.

Em qualquer cidade do mundo, há alguém capaz de construir uma casa, consertar um carro ou tocar um violão.

Como um humano médio consegue transitar entre tantos temas profundos e complexos, cheios de edifícios conceituais, de forma natural? Produzir metáforas, generalizações abstratas, criar universos fantásticos, dominar a cultura pop, arquitetar planos grandiosos, cozinhar pratos de qualquer culinária?


Muito autor para pouco tempo coletivo disponível?

O que os professores mais querem são alunos atentos, receptivos à sua proposta pedagógica, e que fiquem satisfeitos com sua cuidadosa didática. Que maravilha uma plateia ouvindo atentamente suas teorias, piadas e reclamações

O que os músicos querem é que o público entre em êxtase coletivo ao som de sua música. Prova desse desejo é a imensa concorrência para ser gravado e ouvido

O que os escritores querem é que leitores passem horas imersos no mundo que criaram, e fiquem maravilhados com suas analogias perspicazes. Muitos autores dispendem consideráveis valores do próprio bolso em autolançamentos não solicitados

O que os Youtubers querem, além do dinheiro, é que o máximo possível de pessoas fique até o fim do vídeo e achem seu conteúdo útil

O que os podcasters querem é que os ouvintes dediquem horas para escutar atentamente suas intermináveis conversas


Talvez a produção de conteúdo seja muito mais prolífica do que a necessidade da humanidade

Tudo isso é apenas vaidade?

É uma necessidade de deixar um legado objetivo que transcenda o tempo da vida daquele que se expressa?

É para tentar estabelecer uma conexão com as pessoas, de forma que elas sintam o mesmo prazer que o criador do conteúdo sentiu durante o processo de criação?

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Como satisfazer a necessidade humana de expressar sua criatividade, se não há como todo mundo ter um público?

Produzir uma obra considerando que jamais será conhecida por nenhuma outra pessoa é algo válido, ou um ato absurdo?

Do ponto de vista do consumo de conteúdo, é melhor se dedicar às obras canônicas, que são antigas e universais? Ou é mais significativo se dedicar aos conteúdos produzidos por pessoas contemporâneas e locais, muitas vezes conhecidas, ainda que não atinjam o mesmo nível de profundidade dos clássicos?