quinta-feira, 2 de maio de 2013

Para onde nos leva uma sucessão de satoris?


Satori é como uma iluminação, uma compreensão súbita de algo que sempre esteve presente mas só agora parece óbvio, que apenas esperava nos tornarmos capazes de enxergar.

No arcabouço social pós-moderno, um dos primeiros satoris narrados na bibliografia de anedotas sobre o cotidiano (diários, auto-ajuda, blogs pessoais) é a percepção de que a vida pautada na carreira não faz sentido. Alguém viaja para um lugar distante, vivencia uma cultura diferente, sente grande prazer no constante estado de alerta trazido pela imersão numa nova realidade, e logo conclui que os aferrados à rotina estão com a vista ofuscada, condenados a tratar meios como fins, sem perceber o que realmente importa.

Este satori parece ser definitivo. A impressão é que será possível conduzir toda a vida com base nesta descoberta, bastando repetir as mesmas experiências aventureiras para experimentar uma existência plena de sentido.

Porém, ledo engano... logo pode sobrevir outro satori, mostrando que os antigos ideais eram fúteis e dignos dos novatos, sinalizando apenas uma adolescência no universo das iluminações. Pode ser que se compreenda ser desnecessário estar sempre em trânsito, e que até a sensação de desbravar novas terras acaba por tornar-se previsível e entediante.

Eventualmente sucede mais uma compreensão súbita, significando que realmente importante é entrar em contato com novas ideias, conhecer a psicologia humana e entender nossa posição no oceano histórico-social do planeta. Então vamos estudar economia, assistir a filmes cult, buscar a verdadeira história do mundo.

Mas de repente isso pode parecer superficial, e um novo satori indicar que o fundamental é conhecer as origens e destinos do mundo e da consciência individual...

Então talvez percebamos que nada disso tem relevância, etc....

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