terça-feira, 7 de maio de 2013

Trechos de Livros - Alain de Botton

Alain de Botton (A Arte de Viajar, p. 54)Sentia-me sozinho, mas, para variar, era uma solidão suave e até agradável, pois, em vez de se manifestar num ambiente de riso e companheirismo, em que eu sofreria pelo contraste entre meu estado de ânimo e os sentimentos dos outros, ela ocorria num lugar em que todos eram estranhos, onde as dificuldades de comunicação e o anseio frustrado pelo amor pareciam reconhecidos e brutalmente celebrados pela arquitetura e pela iluminação.
Alain de Botton (A Arte de Viajar, p. 212)Um impulso dominante ao nos depararmos com a beleza é o desejo de nos agarrar a ela: possuí-la e conferir-lhe peso em nossas vidas. Sentimos a necessidade de dizer: “Eu estive aqui, vi isso e foi importante para mim.” Mas a beleza é fugaz, é frequentemente encontrada em lugares aos quais poderemos nunca voltar ou resulta de uma rara conjunção de estação do ano, luz e clima.
Alain de Botton (As Consolações da Filosofia, p. 118)Mesmo quando podem desfrutar de cenários sublimes, os ansiosos continuarão preocupados por antever em seu íntimo a ruína e podem preferir que os deixem sozinhos em um quarto.
Montaigne (As Consolações da Filosofia, p. 194)Os diálogos de Sócrates, que seus amigos legaram à posteridade, recebem nosso beneplácito apenas porque nos deixamos intimidar pela aprovação geral que receberam. Não usamos nossos próprios recursos intelectuais para julgá-los, pois nunca fizeram parte de nossos hábitos. Se, na época em que vivemos, alguém viesse a produzir algo semelhante, poucos seriam aqueles que lhe reconheceriam o valor. Não somos capazes de apreciar virtudes que não são destacadas ou ampliadas por artifício. Tais virtudes, rotuladas sob a capa de singeleza ou simplicidade, escapam com facilidade a um discernimento tão superficial quanto o nosso.
Alain de Botton (As Consolações da Filosofia, p. 196)É tentador citar autores quando eles expressam exatamente o que pensamos com uma clareza e acuidade psicológica de que não somos capazes. Eles nos conhecem melhor do que nós próprios nos conhecemos e formulam de maneira elegante e sucinta ideias que para nós eram incipientes e conceitos que não conseguimos delinear.
Alain de Botton (As Consolações da Filosofia, p. 290)O cristianismo, segundo a exposição nietzschiana, brotou da mente de escravos tímidos do Império Romano, que não tinham fibra suficiente para escalar ao topo das montanhas, e assim construíram para si uma filosofia que elegia o sopé como o lugar ideal. Os cristãos haviam desejado desfrutar os verdadeiros ingredientes da satisfação (ascensão social, sexo, proficiência intelectual, criatividade), mas não tiveram coragem de enfrentar as dificuldades que tais privilégios exigiam. Passaram, então, a modelar um credo hipócrita, condenando o que almejavam mas eram fracos demais para tentar obter e, ao mesmo tempo, glorificando o que não desejavam mas que tinham por acaso. A impotência tornou-se “generosidade”; a inferioridade, “humildade”; a submissão a pessoas odiadas, “obediência”; e, segundo as palavras de Nietzsche, a “incapacidade de vingar-se” foi transformada em “perdão”. Todo e qualquer sentimento de pusilanimidade era revestido de santidade e distorcido para parecer “uma conquista voluntária, algo desejado, escolhido, uma proeza, uma realização”. Adeptos da “religião do comodismo”, os cristãos, em sua escala de valores, haviam dado prioridade ao que era fácil, não ao que era desejável, e dessa forma drenaram o potencial da vida.

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