quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tem vezes que não gosto de nada

por Alberto Ronconi


Para que sair para beber e se divertir, se amanhã isso não fará muita diferença, como hoje não faz a diversão de ontem? Bons momentos do passado, ao serem recordados, fazem reviver em nós parte da felicidade experimentada, dirão alguns. Ou então apenas descobre-se que foi tudo superficial, chato e sem relevância. A verdadeira felicidade não está em viver mais do mesmo.

Preciso sair para comer algo saboroso para me sentir bem, preciso ver o próximo episódio do seriado para me sentir bem, preciso acessar sites de pornografia para me sentir bem. Tudo é uma grande mentira, nada disso dá prazer realmente, apenas serve para acalmar o vício por um tempo. O prazer só existe nas primeiras vezes que vivemos essas situações.

Um truque fácil para se sentir bem: ver que existem muitas pessoas numa situação pior que você. Se você não é da classe baixa num país sem saúde pública como os EUA, nem num país sem liberdade para navegar na internet como a China, nem na África, já estará melhor que muita gente. Se tem saúde, ou capacidade para ler e interpretar um texto, está melhor que tantos outros. Mas nada disso importa. O que importa é estar melhor que o vizinho do prédio, o colega de trabalho, o grupo de amigos, só isso nos dá tranquilidade.

Conforme se vai ficando velho, nada mais tem graça. Já consigo prever o final dos filmes, já conheço o sabor de praticamente todas as comidas à minha volta, já sei que a vida não beneficia sempre o mais esforçado. Não aguento mais ouvir os mesmo clichês. Sei que o dia-a-dia de trabalho não costuma ser tão legal como pintavam as matérias que estudei na escola e que muito me entusiasmaram. Futebol é sempre a mesma coisa: a longo prazo todos os times grandes terão sido muitas vezes campeões. Já notei há muito tempo que as propagandas na TV só apelam para o emocional. Que a maioria das pessoas ultra simpáticas que cruzam meu caminho estão na verdade tentando me vender algo. Já percebi que viajar para lugares glamurosos não tem nada demais: basicamente filas, ruas, pessoas. Estou ciente que os casos mais incríveis de coincidência que ouvimos falar são na verdade histórias ficcionais.

Em conclusão. Para uma criança tudo é legal. Para um jovem adulto alguma coisa é legal. Para um velho pouca coisa é novidade. Mas é assim mesmo. Extrair algo novo vai ficando sempre mais difícil, delicado, refinado, conforme avançamos. É necessário um esforço cada vez mais intenso e complexo para obter um avanço cada vez menor. Os atletas de alto desempenho, ou os músicos virtuosos devem viver essa situação com bastante claridade.

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