terça-feira, 15 de maio de 2012

Fábula - Fim da infâcia

Imaginemos a seguinte fábula.

É possível voltarmos ao momento da nossa criação, e brincar de Deus. Escolheremos tudo o que quisermos para nossas vidas. Há liberdade completa, para que em 2012 possamos ter a convicção de que há um sentido da vida claro, único, imutável, indubitável, do qual não desviaremos nossa atenção um segundo sequer, e sentiremos uma alegria constante por havê-lo descoberto.

Podemos escolher a imortalidade do espírito, podemos dar aos homens uma missão específica, podemos criar leis justas que compensarão os bons no longo prazo. Podemos determinar que a verdade é o hedonismo, ou o pela vida de acordo com a natureza, ou o existencialismo.

Isso nos satisfaria em 2012?

Se houvéssemos decidido pelo hedonismo, poderia haver uma revolta humana. Isso porque o homem em algum momento percebe que o prazer é viciante e apenas impõe ansias por um prazer ainda mais intenso. A realização do objeto de desejo, paradoxalmente, cria insatisfação, pois uma demanda maior surge automaticamente.

Escolhendo pela vida de acordo com a natureza, acharíamos nossa capacidade subestimada. Uma vez que podemos refletir sobre a origem e destino do universo, as leis da moral, por que fomos criados, etc., não há como nos contentarmos em vivermos como animais, ainda que em total simbiose com a natureza.

O mesmo se o homem tiver uma missão específica, que use apenas parte de sua capacidade intelectual. Pois certamente ele gostaria de experimentar uma possibilidade mais plena, em que seus dons criadores fossem usados no nível máximo.

Escolhendo o existencialismo, não nos acharíamos em situação tão diferente do real 2012, quando é extremamente confuso criar um sentido para a própria vida. Seríamos pequenos deuses, mas sem consciência cabal disto, o que limitaria nossa capacidade de ação.

Sendo a vida humana finita, voltariam os clamores do absurdismo, de que não faz sentido existirmos com nossa capacidade mental abstrata se simplesmente sumiremos para sempre em algum momento.

Se decidíssemos dar ao homem a vida eterna e, muito importante, a certeza dela, provavelmente o sentido seria evoluir infinitamente, rumo ao desconhecido, mas nunca atingindo a linha de chegada. Mas quem garante que havendo esta certeza não reinariam a preguiça, a postergação das metas para uma futura vida mais próspera, a falta de cuidados consigo mesmo e a humanidade, etc.

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