sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como deixar um legado?

por Alberto Ronconi


Dentre as pessoas que têm um grande objetivo, este é um dos principais. Afinal nossa passagem pelo mundo é efêmera, um piscar de olhos no tempo cósmico. Se não deixarmos um legado, tudo o que fomos na vida terrestre morrerá conosco. E se conseguirmos, de certa forma nos tornaremos imortais, pois uma parte de nós continuará presente indefinidamente.

Mas surge a primeira questão: todos deveriam deixar um legado? Isso é logicamente improvável, pois pouquíssimos são os que se destacam no mundo. Por mais que todo mundo tente, talvez um em um milhão consiga ter suas ideias conhecidas e constantemente recordadas um século depois de sua morte. (Seguindo esta  hipótese, daqui 100 anos continuarão importantes ou influentes apenas 7 mil das pessoas que estão vivas hoje.)

Ser recordado durante 100 anos e depois esquecido também não parece algo muito diferente de ser recordado apenas durante a vida. O impacto causado no mundo teria que ser forte o bastante para durar milhares de anos.

Mas atualmente produzem-se milhares de filmes, músicas, pinturas, livros, filosofias todos os anos. A quantidade de informação criada por uma geração vem crescendo exponencialmente, e logo será impossível que se conheça tudo o que de importante foi criado desde o surgimento do homo sapiens. Os pioneiros, como Platão, Newton, Shakespeare, da Vinci, Beethoven, jamais serão esquecidos. Mas os que apenas deram sequência a essas ideias inovadoras tenderão gradualmente a se fundir em uma grande multidão. E não há como todo mundo supor que produzirá impacto igual ao dos grandes nomes.

Um bom ator de teatro é esquecido muito rapidamente, já que não deixa registros físicos. Mas um de cinema também não será conhecido quando existir uma coleção de um milhão de filmes na humanidade.

Se uma pessoa faz um bem a outra, pode causar grande impacto a curto prazo. Mas com o passar dos anos isso vai se atenuando, à medida que surgem novas necessidades. Até salvar uma vida pode ser algo com pouco impacto no longo prazo, se a pessoa salva não produzir nada que mude o mundo.

Educar bem os filhos apenas passa a responsabilidade de deixar um legado para as futuras gerações.

A conclusão é que alguma filosofia precisa consolar os bilhões que serão irremediavelmente apagados da história dentro de mil anos, um tempo tão curto que representa menos de um décimo de milionésimo da história do Universo.

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